ÁGUA DE COLÓNIA
DENTRO DE MIM
 
"...POUCOS EXISTEM QUE AINDA SAIBAM..."
DOIS DEDOS DE CONVERSA...
DA AFECTIVIDADE ENQUANTO PROCESSO
"EM CONVERSA"
RESPIRA
ÁGUA DE COLÓNIA
 
 
ENTRE O CORPO E A PAISAGEM
"NÃO HÁ PRÍNCIPE AZUL NO ELEFANTE COR-DE-ROSA"
 
 
 
 
“UNUS MUNDUS”: SOBRE COMO VIVER JUNTO
MAMÃ, DEIXA-ME ANDAR DE ESCULTURA?!
 
 
 
 
ALGUMAS QUESTÕES EM TORNO DA INVESTIGAÇÃO SENSORIAL
RESPIRA

DA AFECTIVIDADE ENQUANTO PROCESSO


MIGUEL VON HAFE PÉREZ. SETEMBRO 2005

O trabalho de Rute Rosas tem vindo a construir-se na intersecção de formas que denotam um forte impulso vitalista e a continuada exploração do corpo enquanto suporte de registos mais ou menos auto-biográficos. Esta dimensão auto-referencial funciona mais como um ponto de partida mediante o qual a artista se relaciona com a sua envolvente, do que propriamente como indagação da sua dimensão social, política ou estética. Ou seja, o regime da representação estabelece mais uma escala de relacionamento directo com o fruidor, do que esclarece sobre qualquer tipo de narratividade biográfica. Assim, o que se tem evidenciado nos últimos projectos desta artista é uma preocupação no processo em que estes se desenvolvem, em detrimento da convencional estrutura de apresentação/recepção das propostas.
(…) O trânsito constante entre a dimensão afectiva (o abraço) e funcional (o papel para embrulhar) situa a intervenção da artista, como se disse, num plano que tenta curto-circuitar o modo como convencionalmente separamos as esferas do amor e do trabalho, do prazer e da produtividade. (…)
Este optimismo e o anteriormente referido ímpeto vitalista que os projectos de Rute Rosas denotam contrastam violentamente com o pessimismo e o estado de ansiedade constante a que as sociedades contemporâneas parecem estar condenadas; no entanto, tecendo a sua estratégia criativa a partir de uma visão que não deixa de ser irónica e por vezes conflituante com questões críticas da realidade que a envolve – como sejam os papéis atribuídos à mulher no quadro das relações privadas e públicas na sociedade actual, ou os modos de visibilidade/distribuição do trabalho artístico num contexto fortemente determinado pelo poder económico que o sustenta –, a artista parece indicar o espaço da afectividade como espaço vital de nivelamento das contradições que marcam o ritmo das nossas acções. Assim, é a partir dos pequenos gestos e nos pequenos prazeres, que se vão erigindo alternativas positivas àquilo que nos parece inevitável e fatalmente determinado. E é acolhendo e confrontando-nos com todo o tipo de situações (…) que melhor nos preparamos para saber valorizar a simplicidade e a energia dos momentos de felicidade de que tão irracionalmente nos afastamos quotidianamente.



Retirado do texto integral, in catálogo da exposição Pele de Embrulho, Galeria Sopro, Lisboa, Outubro, 2005