Aperta-me
 
 
 
Ruas
 
 
 
 
 
 
 
Um crime perfeito #1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um crime perfeito #2
 
 
 
Um Crime Perfeito #2
2009
Um crime perfeito #2
banheira em gesso, lâmpadas

No projecto "Whitebox", de Frederic Figueiredo parecem ser levantadas questões acerca da contextualização da obra de arte perante um acordo de integração em determinado espaço. Este assunto tem pertinência secular e ainda faz sentido hoje “dando especial ênfase à sua importância na transacção”, o que reafirma a ligação umbilical entre a arte e a sociedade, no melhor e no pior dos sentidos.
Assim, o lugar institucionalizado seja ele "white cube" ou outros, parece “desempenhar um papel preponderante no mundo da arte, legitimando e sacralizando o que nele é apresentado, influenciando os artistas na criação de obras que sejam facilmente transaccionáveis (…) conformizadas com os padrões do "white cube" e do mercado da arte”.
Excertos retirados do projecto enviado aos artistas por Frederic Figueiredo.
A ideia de apresentar o modelo espacial fornecido – “whitebox” – como um dos elementos da composição espacial e igualmente “personagem” central pode ser uma possibilidade de reafirmar ou contrariar o que é apresentado como dado adquirido.
Confrontar alguém com a sua própria realidade pode ter esse efeito de espelhamento ou reflexo.
A apresentação de “Um crime perfeito #2” centra a percepção no vazio luminoso e num espaço de interior indeterminado mas real que acarreta em si mesmo a energia suficiente para modificar o que o envolve e que geralmente não se vê ou não se quer ver.
Ninguém crê profundamente no real, nem na evidência da sua vida real. Seria demasiado triste.
Parece ser confortável permanecer num estado de ilusão e engano relativamente ao significado dos valores e dos conceitos. Transparência não é aparência… O afastamento da significação dos conceitos, do centro, numa fuga em direcção à estranheza e ao vazio, conforta a inércia (BAUDRILLARD, Jean, 1995). Uma transparência que nos é oferecida pela ausência de si mesma, como um espaço em negativo. O que temos é a periferia, embora atraídos pelo foco.
Será censura? Se existe não é a preto mas a branco ou demasiado luminosa.
Uma cegueira branca, reflectida por José Saramago, periférica, onde o cenário, volume e forma dos objectos se confundem e diluem. Cegos permaneceremos inertes. Por medo? Por cobardia?
Parece confortável manter os medos de ser e de existir (GIL, José, 2004), condição de se ser Humano.
O Espaço/Lugar, passagem do Tempo e do Corpo. O Corpo como Tempo. Corpo que passa pelo Lugar num determinado Tempo. O Tempo que é Mental (memória e recordação) e Físico (emoção, sentimento e razão)... 
E assim, ausentes, apagados, sem significação aos nossos próprios olhos. Distraídos, irresponsáveis, enfraquecidos. Deixaram-nos o nervo óptico mas enfraqueceram-nos todos os outros. É nisso que a informação participa da dissecação: ela isola um circuito perceptivo, mas desconecta as funções activas. Não resta já senão o ecrã mental da indiferença técnica das imagens.
Crimes sociais perfeitos…

Rute Rosas, Porto, Maio de 2009

(texto realizado a partir da sinopse do primeiro trabalho da série “Um crime perfeito” para a Revista Bombart nº2, Março/Abril 2009, pag.54,55,56)
Esta obra não seria possível sem o apoio da CRERE e é pertença do Museu do Estuque que acreditou no projecto.

BAUDRILLARD, Jean, O Crime Perfeito (tít. orig.: Le Crime Parfait, Éditions Galilée, 1995, trad.: Silvina Rodrigues Lopes), col. Mediações dirigida por José Bragança de Miranda, Relógio D’Água Editores, Lisboa, 1996, Pag.130.
Op.cit., pag.182.