2006
Mala do meu corpo
12 x 65 x 45cm (fechada)
Prata, pele artificial, veludo e mdf
(...) A peça Mala do meu corpo… (fig.2) (Do meu umbigo de prata/Do meu beijo de prata/Do meu dedo de prata/Do meu mamilo de prata), apresenta réplicas em prata de partes do seu corpo, processo que a artista desenvolve desde 2003, iniciado com Beijos de Prata. A apresentação de fragmentos do seu corpo é recorrente no discurso auto-referencial, multissensorial e proprioceptivo de Rute, e inclui experiências tais como Fragmentos de Corpo (2003), Porto 2001/Rio de Janeiro 2003 (2004), e Objectos Espelho (2005). Rute refere-se assim a estes fragmentos de si: «São dádivas de mulher: são dedais de costureira, umbigos de mãe, bocas que beijam e alimentam, mamilos que alimentam e se deixam beijar, chupar e lamber pelo recíproco prazer, dedinhos que apertam a camisa do seu amor». A expressão do afecto, preferencialmente associada à vivência do complexo corpo/mente nas acções elementares necessárias à sua subsistência, transforma estes objectos inanimados em algo mais do que representações miméticas de um corpo original; réplicas evocativas dessas acções elementares, estes fragmentos significantes rememoram as acções originais de que são o ícone, garantindo que estas nunca serão meramente automáticas ou insignificantes, mas eventos sempre carregados com a vitalidade da acção original, com a disponibilidade, a espontaneidade, e a potencialidade do modo de ser do momento primordial. Deste modo, os fragmentos do corpo exprimem as acções originais como outros tantos pretextos diários para transcender a esfera do profano, do quotidiano, para efectuar a passagem do modo de ser profano para o modo de ser não profano, ou sagrado.(...)
Suzana Vaz. Porto. Setembro 2006.
Água de Colónia