Pele de Embrulho na TV Shop
São rosas senhor
 
 
 
 
Dez anos depois
Talvez eu seja daqui
Pele de Embrulho
Da minha boca de luz / Do meu ventre de luz / Dos meus olhos de luz
 
 
Bocas e beijos
Abraça-me
Porto 2001, Rio de Janeiro 2003
Foi como um sonho
 
 
Objectos espelho
 
Será pão
No conforto de um beijo
Como um reflexo
 
Serão rosas
Do meu umbigo de prata / Do meu beijo de prata / Do meu dedo de prata
 
 
 
Karnapidásana
2005
Dez anos depois
Desenhos Bordados
díptico 170cm x 137cm

O fio do afecto
Suzana Vaz. Janeiro 2005.

O trabalho “10 anos depois” coloca lado a lado dois bordados de Rute Rosas, um elaborado há dez anos, e outro agora. Os bordados evidenciam as características essenciais da obra de Rute Rosas. Por um lado, são auto-retratos bordados em fio de seda sobre linho, que comprovam a utilização do corpo da artista ou de imagens deste como ícones permanentes da obra. Por outro lado, são portadores de um conteúdo auto-referencial, reiterando a relação directa que a artista estabelece entre a sua actualidade biográfica e a escolha das tecnologias e linguagens que concretizam o trabalho.

Ambos os auto-retratos são tributos ao amor, cuja execução laboriosa e devotada - em pontos tradicionais das Caldas da Rainha, no primeiro bordado, e em ponto de pé-de-flor no bordado mais recente – se institui como um equivalente plástico e poético da vivência amorosa, apresentando a coreografia dinâmica mas ínfima de cada um dos minúsculos e apertados circuitos repetidos pelo fio do afecto, desde a unidade até uma construção preenchedora e global. O rosto tranquilo e quase sorridente do primeiro bordado, apoiado numa mão e pousando o olhar de frente no observador, em cujo cabelo se encaixam em perfeita ordem orgânica as volutas tripartidas do ponto tradicional das Caldas, é a imagem sem sobressaltos, imperturbada, do esplendor da descoberta amorosa. O rosto do segundo bordado apresenta-se de perfil e emerge de uma volumosa cabeleira contornada, cujas pontas, preenchidas e acentuadas, caem ondulando em desalinho e em várias direcções, enquanto da boca saem linhas bordadas que descem com uma palavra escrita, “amor”, para pousarem no espaço do caixilho que emoldura a peça, acumulando-se num agitado e denso emaranhado de fio de seda, completando a imagem paradoxal do devir amoroso, inesgotável e suplicante.