2000
Confessa
vídeo, áudio, esferovite, tecidos
"Estou aqui contigo. Estamos só nós, juntos.(...) Deita-te e relaxa, relaxa! Estamos tão perto, mas tão longe.(...)
Olá! Podes te deitar e ficar aqui comigo. Podemos conversar, podes me contar tudo o que quiseres que eu estou aqui a ouvir-te. Fica tudo entre nós, só nós dois. Vá, relaxa, relaxa! Descansa, relaxa, descansa relaxa... (...)
Então, como te sentes? Estás na mesma? Estás na mesma! Como é que és capaz de dizer isso. Não deverias estar na mesma. Deverias estar mais calmo mais relaxado isolado do lado de fora, da correria.... Vá fica! Vá dorme! Já disse."
Uma parte do texto que aquela enorme boca (a projecção tem cerca de 600x 800 cm) declama, alterando o tom, o ritmo, os estados ora de tranquilidade ora de raiva, ora de paixão ora de desilusão. Da voz sem rosto, de uma deusa que está longe e ao mesmo tempo perto, reclamando uma confissão.
Quando alguém se confessa é porque tem necessidade e não porque lho é reclamado, imposto.
Quando alguém se confessa procura descanso espiritual e não relaxamento físico. Neste trabalho esta carga só é sentida em termos de ambiente, porque o jogo real é a sua antítese. Num refeitório (que serve ao conforto físico, mais do que da alma) do Convento de S.Francisco, em Coimbra, encontra-se uma volumosa e confortável nuvem branca com a mega-boca projectada, no que mais parece um altar, que fala alto deixando o rasto de um eco, sem perder a limpidez, a expressividade e o brilho. O espaço arquitectónico sugeria isso mesmo. Longo como uma igreja, de tecto abobadado, forrado a azulejo, húmido e frio, despido, obscuro, abandonado e solitário.