JOÃO SOUSA CARDOSO, SETEMBRO, 2002
Recusar o corpo tradicional, o uso quotidiano que fazemos do corpo, significa repudiar a estereotipia, a simplificação, o acaso, a linearidade inconsequente da experiência física sem consciência de si. Rute Rosas desafia o fruidor a participar, a utilizar descomplexadamente os dispositivos que cada situação específica oferece. Estética Relacional? Rute Rosas identifica-se com “um modelo de sociabilidade que valoriza as relações inter-humanas pela convergência das mais diversas áreas artísticas e científicas”, mas recusa qualquer tipo de engagement relativamente a correntes ou teorias. Procura a construção de “espaços utópicos com referentes reais” numa articulação entre o contexto espacial, a proposta criativa e o fruidor-participante.
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Rute Rosas responde que o centro de toda a experiência será a Memória: por um lado, a experiência desperta experiências psicossomáticas sedimentadas no sono da nossa história pessoal; por outro lado, a experiência estética fica indelevelmente registada, fixada, alojada mais ou menos silenciosamente no nosso arquivo individual.
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Ampliar as coisas de reduzida dimensão, macroscopiar o pormenor, torna-lo consciente e momento efectivo são alguns dos pressupostos laborais de Rute Rosas que remetem tanto para uma análise, a diversas escalas, do corpo e da especificidade da sua gramática, como da importância da disponibilidade e atenção na reescrita do mundo a partir da vulgaridade, isto é, o tempo. “A redução da velocidade impõe-se”.
Nota: As citações de Rute Rosas são parte de um conjunto de conversas tidas com a artista, em torno de “Dentro de Mim”, entre 7 e 14 de Setembro de 2002.
In catálogo Dentro de Mim, Galeria Canvas, Porto, Outubro, 2002